"Um olhar,uma carícia, um sorriso, um ouvido atento, um elogio sincero. Um mínimo acto de amor tem o poder de transformar uma vida".
31/03/2009
30/03/2009
27/03/2009
20/03/2009
17/03/2009
13/03/2009
12/03/2009
U2 - 360º Tour 2009
Afinal o concerto mais próximo de nós, será em Barcelona!
Já no próximo dia 30 de Junho!
http://www.u2.com/tour/presale/index?
11/03/2009
A cegonha e a raposa

O sr. Pombo, o carteiro,
trouxe um bilhete à Cegonha,
em folha de pessegueiro,
que ela soletrou risonha:
Dona Raposa, a Vossência,
envia muito saudar,
aguardando a comparência
de Vossência no jantar.
Que às tantas do dia tal
do corrente, se efectua
no Retiro do Pardal,
na rua da Catatua.
Não diga nada ao correio
e creia-me ao seu dispor.
Traje: simples de passeio.
É claro: à hora marcada,
no dia Tal, no bilhete,
Dona Cegonha, apressada,
lá seguiu para o banquete.
Mas foi uma decepção,
pois a Raposa, matreira,
fez servir a refeição
numa pedra de ribeira...
E, enquanto a pobre Cegonha
achava o caso bicudo,
a Raposa, sem vergonha,
tratava de comer tudo!
Mas a Cegonha, à saída,
despediu-se em tom amigo:
- Gostei muito da comida!
Almoce amanhã comigo!
De manhãzinha, a Raposa,
sempre cheia de apetite,
não quis saber de outra coisa
senão daquele convite.
- Sim senhora! Bela mesa!
gritou logo, satisfeita
Cheira que é uma beleza!
Há-de me dar a receita...
Bem digo eu, afinal,
e a colegas dos melhores,
que dona de casa igual
não há nestes arredores!
Pôs então o guardanapo,
pensando de olhos em alvo,
que havia de encher o papo
graças a mais um papalvo...
Já a Cegonha servia,
prazenteira, o seu almoço
numa bilha muito esguia
e funda que nem um poço.
Só um bico, desta vez,
podia chegar ao fundo...
Foi o que a Cegonha fez:
rapou tudo num segundo.
E fula, de olhar em brasa,
a Raposa, como louca,
teve de voltar a casa,
fazendo cruzes na boca.
Vingança é coisa mesquinha!
Mas na vida quem faz mal
paga às vezes a continha
com juros e capital...
Jean de La Fontaine
05/03/2009
Diz-me onde moras...

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada.
Por exemplo. Há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.
Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e
Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas
águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.
Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos.
O tamanho e a arquitectura da casa não interessam.
Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada,
Agualva-Cacém, Abuxarda, Alfornelos, Murtosa, Angeja...
ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.
Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas,
compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na Europa.
De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém),
como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?",
e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?",
Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).
É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto,
para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga),
mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso?
Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
Ninguém é do Porto ou de Lisboa.
Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa
terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.
Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes
dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)
Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde),
e acabando a comprar rebuçados em Bombom do "Bogadouro"¹, (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã).
¹ - Bogadouro é o Mogadouro quando se está constipado!!! "
Miguel Esteves Cardoso
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